Entrevista

 

PEDRO ALVES E JOÃO PAULO RODRIGUES, EM ENTREVISTA

Humor sem crise

 

Pedro Alves (conhecido por Zeca Estacionâncio) e João Paulo Rodrigues (Quim Roscas) formam uma das duplas de humoristas portugueses mais vista. Em entrevista ao Ensino Magazine, os dois actores, contam como se pode fazer humor em Portugal, numa conversa a três vozes. O resultado aqui fica. Façam o favor de também se rir, porque contra a crise não há melhor remédio.
 

Os vossos patrocinadores são bem antigos e mantêm-se muito fieis?

Zeca E. Continuam a pagar. Alguns deles disseram-nos assim: “a gente vai patrocinar mas ainda não temos empresa feita, inventem qualquer cena”. A gente inventava, depois as coisas resultavam. Mais tarde fizeram as empresas e os produtos vendem-se aí que é uma categoria. Em tempo de crise a coisa está a correr bem para os nossos patrocinadores.
 

A crise ainda é a melhor coisa para o humor e a stand-up comedy?

Quim Roscas. O nosso humor ainda é o mais popular, é barato. Mas há aquele riso mais carito. Mas o nosso é para toda a gente, é popular, é baratucho, toda a gente se ri, toda gente percebe.

Zeca E. Em tempo de crise toda a gente pode comprar. Mas isso da crise acho que é uma treta do caneco. A crise é uma coisa que as pessoas usam para justificar uma coisa que não tem justificação.

Quim Roscas. Ia dizer uma coisa mesmo bonita para rematar e esqueci-me por tua causa, pá.

Zeca E. Tu também me interrompes quando estou a dar entrevistas. Chegas aqui “Ai as mulheres badalhocas”… Não tem nada a ver. É bonito, não é?

Quim Roscas. Mas eu não falei das de cá, falei das de lá.

Zeca E. Das de lá ou de cá, não interessa, eu estava a falar de um assunto e interrompeste-me.

Quim Roscas. Mas eu estava a falar de uma coisa assim hipotética, que são aqueles animais que andam na selva.

Zeca E. Hipoteticamente também estragas-te a linha de pensamento que estava a usar na altura, que é uma linha que já se perdeu.

Quim Roscas. Tu sabes que eu tinha um amigo que era gago que foi naquelas coisas para África? Como é que se chama?

Zeca E. Safari.

Quim Roscas. Então ia um grupo de 100 pessoas, ou 50 pessoas, e começa ele: hip… hip… hip. E o pessoal “Hurra”, “Hurra”. No dia seguinte foram todos degolados por um bando de hipopótamos.
 

Os vossos espectáculos são planeados ou há muito improviso à mistura?

Zeca E. Nunca dá para fazer um alinhamento de um espectáculo destes porque nós não sabemos o tipo de público que vamos ter ali à frente. Depois no palco, naqueles primeiros cinco minutos, analisamos bem a situação e decidimos por onde se vai, mas é tudo de improviso. Temos coisas que já fazemos há anos, outras que vamos alterando, mas é praticamente sempre na hora que as coisas acontecem.
 

Ficam satisfeitos com a reacção, principalmente às músicas com aquelas letras um pouco manhosas?

Quim Roscas. Ficamos. Nós já há muito tempo que cantamos essas músicas e as pessoas já há muito tempo que nos conhecem e acompanham o nosso trabalho. Se é que se pode chamar trabalho, é mais diversão para nós. Somos bem recebidos e as pessoas gostam de nós. E sentimo-nos bem, como é óbvio.
 

Além dos espectáculos, há também a televisão. Estão satisfeitos com o resultado final do vosso programa na RTP 1?

Zeca E. Claro que sim é sempre bom estarmos a fazer um trabalho e percebermos que as pessoas o consomem. E os resultados têm sido excelentes. É um reconhecer do nosso trabalho. As pessoas estão a gostar e isso deixa-nos satisfeitos, porque o projecto inicialmente era algo que nós não sabíamos se ia resultar, mas afinal resultou e conseguimos chegar a quase todos os extractos sociais. Temos um programa abrangente, é fixe.
 

Como é que surgiu a ideia de um programa com aquelas características e principalmente no Curral de Moinas?

Zeca E. Foi na praça da Alegria. Na altura tinham-nos pedido para fazermos uma coisa durante 15 dias, que era só para um tempo de férias lá da Praça. Então surgiu a ideia, juntamente com os nossos guionistas, de fazer o TeleRural. Era para ser 15 dias, mas como vês, continuamos.
 

As notícias como é que são feitas? Têm uma equipa que escreve para vocês, ou são da vossa autoria?

Zeca E. Temos os nossos guionistas que são o Frederico e o Henrique. Obviamente que às vezes partilhamos ideias com eles. Estamos sempre ali a pensar ideias novas, mas são eles que depois fazem os textos. Eles pedem-nos a nossa opinião, partilhamos ideias. E depois é aquele resultado que toda a gente vê, que a gente gosta muito.
 

Nos espectáculos ao vivo ou nos directos de televisão onde sentem mais adrenalina?

Quim Roscas. São duas coisas diferentes. O improviso em televisão é sempre uma responsabilidade enorme, estás a ser visto por milhões de pessoas. Aqui nos espectáculos é um trabalho mais descontraído, podemos estar mais à vontade, podemos desatinar mais. O trabalho ao vivo com o público é muito mais solto.
 

Nos directos com a RTP 1 já aconteceu alguma situação que ia para sair uma palavra mais picante?

Quim Roscas. Posso falar de uma. Nós estávamos num directo, num programa ao vivo que a RTP faz. Depois de almoço o Pedro virou-se para um senhor da Guarda e perguntou-lhe o que ele tinha almoçado. O Pedro tentou emendar “ele disse que comeu uma sandezona”. E o senhor “ Comi mesmo uma sandes de ….”. São coisas que acontecem em directo, para a RTP, com milhões de pessoas a ver, em Portugal e no estrangeiro. E um gajo tem de se desenrascar, e desenrascamo-nos bem.
 

Sendo vocês homens do Norte não gostam de brincar com o Benfica?

Quim Roscas. Eu não ligo a futebol, aqui o meu sócio é ferrenho do Futebol Clube do Porto, e eu gosto de dizer que sou do Sporting para o picar. Mas sou do Sporting de Braga. Não ligo ao futebol, o futebol a mim não me diz nada.
 

Projectos para o futuro?

Quim Roscas. Tenho agora um projecto porreiro de uma casa que estou a fazer. A ver se o banco me dá dinheiro.

Gostávamos de fazer Teatro. Temos um projecto na forja que os nossos argumentistas estão a começar a escrever. Irmos de teatro em teatro, pelo país fora, com o teatro do Quim e do Zé, com as personagens da televisão. É uma questão de se acabar de escrever e de ensaiar. Daqui um ano vamos levar o Quim e o Zé às terras.
 

Há muitas datas já agendadas?

Quim Roscas. Todos os fins-de-semana temos espectáculos agendados, durante o ano. No próximo fim de semana temos um espectáculo, daqui a duas semanas estamos nos Açores; há 3 semanas estivemos no Canadá, Suiça. Passamos a vida cá, ou fora de Portugal a actuar para as comunidades. Todos os fins de semana temos sempre espectáculos agendados.
 

Em Portugal já há mais condições para o stand-up comedy progredir?

Quim Roscas. Já começam a haver melhores condições. Houve ai três ou quatro programas de televisão que abriram a mentalidade às pessoas. Começou-se a fazer uma comédia mais inteligente. As mentalidades já são mais abertas. Há coisa de 10 anos não conseguias. Quando nós começamos, dizer uma piada sobre qualquer coisa já era um escândalo. Agora as pessoas já entendem. Já podemos dizer uma asneirada, o pessoal já entende na boa.
 

O Vosso sotaque também é uma mais valia para as piadas?

Zeca E. Não é uma questão de sotaque, é o ênfase que damos às coisas ao falar. No Norte temos uma maneira especial de fazer isso. Se calhar noutras zonas do país as pessoas são mais lineares a dizer as coisas, nós cá damos um bocadinho mais de ênfase.
 

Em Portugal o humor tem cada vez mais inteligência na sua escrita?

Zeca E. Sim, claro. O programa Levanta-te e Ri foi descobrir pessoal que escreve muito bem, e o humor em Portugal está muito fixe.

Entrevista: Hugo Rafael
Texto: Eugénia Sousa

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